O Longo Jogo da Especialização e como a IA Pode Mudar as Coisas

Dan Pye

Uma das características que associamos à expertise é a de alguém que possui um acervo de conhecimento acumulado que pode ser acessado, sintetizado e aplicado a novas circunstâncias. Referindo-se a Warren Buffet como um exemplo, o autor Shane Parrish o descreve como o “arquivo de conhecimento armazenado no cérebro de Warren Buffett”.

No caso de Buffett, ele dedicou muito tempo lendo profundamente sobre ideias e negócios nos quais estava interessado e visitou uma grande diversidade de empresas por horas a fio para entender tudo, desde a produção até o gerenciamento. Até hoje, ele lê centenas de relatórios anuais de empresas de uma ampla gama de setores em que ele não participa. Considerando suas ações, podemos concluir que ele é um consumidor voraz de informações.

Parrish argumenta que Buffet faz algo diferente do que muitos de nós fazemos: a maioria de nós consome “informação com prazo de validade”, enquanto Buffet consome informação de “longa meia-vida”. Por que isso é importante? Porque ele se foca em um tipo de informação que pouco muda ao longo do tempo, o que lhe permite acumular ainda mais conhecimento.

Informações com prazo de validade x conhecimento acumulado

Conforme descreve Parrish, as informações com prazo de validade têm um ciclo de vida muito curto. Elas são vendidas para você, não têm nuances e são facilmente digeríveis.

Ela também é fornecida em grandes quantidades e de inúmeras maneiras que reforçam nosso hábito de buscar informações rápidas e prontas. Isso é o que James Gleick reconheceu em 2011 como “uma inundação, na qual a informação é barata, abundante e onipresente”, o que hoje em dia é ainda mais verdadeiro.

Não é porque as pessoas querem ser triviais em seus esforços de aprendizado. Há pressões relacionadas a prazos e tempo que restringem a frequência ou por quanto tempo podemos ir além em nossos interesses. O volume de informações publicadas todos os dias é esmagador, assim como a enorme variedade de mídias disponíveis. Ficou mais fácil e além disso, nos acostumamos a depender muito dos computadores para guardar o conhecimento que buscamos.

O conhecimento acumulado está associado à expertise que uma pessoa desenvolve através de aprendizado e desenvolvimento consistentes ao longo do tempo. Um especialista pode compor seu conhecimento em um conjunto de habilidades (por exemplo, um analista com excelente proficiência em planilhas e fórmulas), em uma profissão (por exemplo, um engenheiro versado em vários idiomas e tecnologias) ou em uma competência (por exemplo, um consultor que orienta executivos em tomada de decisões e inovação).

Esse tipo de conhecimento é adquirido através da persistência, aprendizado ao longo da vida e esforços consistentes durante longos períodos de tempo. Em vez de confiar em outras pessoas para que elaborem informações rápidas para nós, podemos nos aprofundar nos detalhes e pensar por conta própria. Em qualquer situação nova, esse tipo de especialista adaptativo tem a vantagem da flexibilidade cognitiva e do reconhecimento de padrões para guiá-lo a tomar decisões mais claras.

A IA está chegando

Embora GPT signifique Generative Pre-Trained Transformer (Gerador pré-treinado de transformação), pode ser útil manter um significado anterior e igualmente válido: General Purpose Technology (Tecnologia de uso geral), como defende Ethan Mollick. Podemos enquadrar o GPT como análogo à Revolução Industrial ou à Internet. Ele alerta para o fato de que muitos líderes acreditam que o principal objetivo da tecnologia é a eficiência, na qual a IA se torna uma forma de cortar custos.

Em vez disso, qualquer vantagem real sobre como a IA “virá da experiência de seus funcionários, que é necessária para desbloquear todo o potencial de expertise latente da IA”. Precisamos de especialistas, com esse conhecimento profundo e composto para criar e ampliar os recursos que poderão se tornar disponíveis por meio da IA.

A IA ainda é nova o suficiente para que estejamos apenas especulando como as tecnologias de IA afetarão o aprendizado e a expertise. Como trabalhadores do conhecimento, poderemos enfrentar desafios como:

  • Conjuntos de competências obsoletas. Algumas competências serão principalmente conduzidas pela IA, e ela será mais proficiente nelas. É praticamente certo que isso acontecerá.
  • Dependência de IA. Se antes já estávamos terceirizando a capacidade de conhecimento para os computadores, isso só vai piorar. A terceirização da tomada de decisões para a IA é um assunto de discussão que está em alta sobre um dos potenciais cenários futuros mais temidos.
  • Vieses, dados distorcidos, informações falsas e intenções maliciosas. Qualquer informação em que confiamos para compor nosso conhecimento pode se tornar cada vez menos confiável. Ao sermos solicitados a incorporar a IA na prática, também haverá questões éticas relacionadas à privacidade/uso de dados que precisaremos usar.
  • Competição pela expertise humana. Enquanto IA ficará incubida de resolver problemas complexos, avaliar opções e tomar decisões estratégicas.

Um caminho a seguir

Embora as ferramentas estejam mudando e mais diligência seja necessária, os especialistas continuarão a ter um papel importante no trabalho e na sociedade. Há alguns aspectos de como a relação deles com a construção do conhecimento será aprimorada com a IA:

  1. Automação de tarefas. Em qualquer área, haverá tarefas em que a IA se sairá melhor e aqui fazemos duas considerações. Isso é bom, pois permitirá mais tempo para se concentrar em tarefas de nível mais alto e que envolvem criatividade, bem como em inovação (e tenho certeza de que a IA pode proporcionar alguma inspiração), mas ainda precisamos de humanos no circuito que entendam os princípios e processos subjacentes dessas tarefas.
  2. Insights de dados. Mesmo com especialistas no assunto, há tantos dados disponíveis que, às vezes, se torna um um caso de “não sabermos o que não sabemos”. A IA pode processar grandes quantidades de dados rapidamente, fornecendo insights que levariam muito mais tempo para serem descobertos por humanos.
  3. Mais formas de experimentar. Os especialistas com profundo conhecimento em seus domínios são realmente bons em identificar padrões e aplicar insights de um conjunto de problemas a outro. O que a IA provavelmente pode ajudar é potencializar a capacidade deles testarem cenários hipotéticos, checar/verificar padrões ou extrapolar em uma “intuição” para ver até onde ela vai.
  4. Acelerar a resolução e a análise de problemas. Uma das vantagens dos conjuntos de recursos de IA é que eles podem aprender com exemplos. O uso de “modelos” ou resultados de experts ajudará o especialista da área a aplicar o que ele sabe mais rapidamente, assim como também permite que outros profissionais também se beneficiem. Os especialistas de toda a empresa devem estar envolvidos no aprendizado e do treinamento dos modelos de IA.
  5. Aprendizagem personalizada. As plataformas de IA podem adaptar o conteúdo e aprimorar os recursos disponíveis para a aprendizagem contínua. Mas, assim como Buffet, você deve sempre procurar as fontes destes materiais que a IA traz. A aprendizagem profunda não acontecerá se você usar a IA generativa como uma forma de trapaça para se tornar um “expert” – ela realmente não é otimizada para isso.
  6. Verificador de ideias pessoais. Os especialistas buscam pontos de vista opostos como uma forma de checar os seus próprios pontos de vista e fortalecer seu conhecimento e às vezes, não há ninguém por perto que possa desempenhar esse papel. A IA está preparada para isso – você pode atribuir a ela uma função ou um ponto de vista e ela o defenderá, e você pode usar essas interações para testar melhor o seu ponto de vista.
  7. Ética e modelagem da IA. A implementação da IA de forma responsável e ética é essencial. Sabemos que já existem vieses e características enganosas que estão evoluindo nos LLMs. Os especialistas precisam estar presentes para moldar o desenvolvimento da IA.

Continue a buscar novas informações, aprofunde-se nos assuntos que lhe interessam e construa uma base de conhecimento robusta que possa ser utilizada ao longo de sua carreira. A forma como você faz isso pode estar mudando, mas a aprendizagem contínua seguirá sendo um comprometimento que vale a pena.

Como a IA continua a evoluir, será inevitável que os especialistas precisem adotar as seguintes mudanças e aproveitar as ferramentas de IA para aprimorar seu aprendizado e crescimento profissional:

  • Permaneça curioso. Mantenha a mente aberta e esteja disposto a explorar novas tecnologias que sejam (ou não) de IA em sua jornada de aprendizado. O conhecimento acumulado será o trabalho de uma vida inteira de aprendizado consistente e profundo que acontece de várias maneiras – lendo, interagindo, observando, fazendo.
  • Invista no aprendizado. Aproveite as vantagens das plataformas educacionais baseadas em IA para permanecer à frente na sua área de atuação e expor você a novos recursos e dados originais que podem moldar seu conhecimento e expandir os contextos e aplicações que você poderá utilizar.
  • Mantenha-se adaptável. Seja flexível e esteja pronto para se adaptar a novas formas de trabalho à medida que a IA continua a transformar as maneiras como aprendemos e trabalhamos.

A próxima geração de especialistas verá a IA como uma co-inteligência no longo jogo de conhecimento acumulado.

Sobre o Autor
Dan Pye
Dan is the Senior Marketing Program Manager at Volaris Group, managing the company's website, social media, and other digital content strategies. Prior to joining Volaris, Dan was a newspaper reporter and content manager for a white-label web portal company that served Verizon, AT&T and other large telecoms.
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